Comissão de Saúde debate situação dos pacientes celíacos
Dificuldades de diagnóstico, despreparo dos profissionais de saúde, desinformação e falta de ambientes seguros para se alimentar. Estes foram alguns dos problemas apresentados nesta segunda (11) na audiência pública com o tema “a invisibilidade da doença celíaca em Pernambuco”. O debate foi promovido pela Comissão de Saúde da Alepe e contou com a presença de representantes da sociedade civil e do Governo do Estado.
Segundo o Ministério da Saúde, a doença celíaca é uma enfermidade autoimune causada pela intolerância permanente ao glúten, principal fração protéica presente no trigo, no centeio, na cevada e na aveia. Ela é um distúrbio hereditário que se expressa por meio da inflamação das células intestinais. Os sintomas são amplos e incluem diarreia, desnutrição, perda de peso e dores abdominais. O tratamento requer uma dieta livre do glúten.
Pesquisadora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Carolina Ribeiro falou da ausência de dados públicos sobre a população celíaca. Segundo ela, estimativas que levam em conta a dinâmica mundial indicam a presença de 90 mil pessoas com a condição no Estado.
Diagnóstico
A médica Emanuelle Cardinali, que também sofre com a doença, falou sobre a falta de estrutura para diagnosticar e atender estes pacientes. “São poucas as cidades no Brasil em que o médico da atenção primária pode solicitar o exame de sorologia. Ele precisa encaminhar para um gastroenterologista que, então, vai mandar o paciente para a fila da endoscopia. Tudo isso torna ainda mais difícil e demorado o diagnóstico”, explicou.
A nutricionista Micheline de Medeiros acrescentou a falta de preparo dos profissionais de saúde em identificar a persidade de sintomas. Ela, que sofria de dores musculares incapacitantes e passou por três abortos espontâneos, precisou passar pela avaliação de uma longa lista de especialistas para então entender sua condição.
Propostas
Membro do Coletivo Celíacos de Pernambuco (Cocelpe), a farmacêutica Bety Senna tem um filho de 9 anos com a doença. Ela defendeu a capacitação não apenas dos profissionais de saúde, mas daqueles que atuam na área de educação.
“É preciso contar com a sensibilização das instituições de ensino para que compreendam a condição celíaca e nos ajude a garantir que nossos filhos não comam o lanche do colega ou que a mesa em que ele está sentado não tenha resquícios de alimentos com glúten”, pontuou.
Também representando o coletivo, Ana Isabel Machado falou sobre os perigos da chamada “contaminação cruzada”, que ocorre quando um alimento naturalmente sem glúten tem contato com o elemento ao longo da cadeia de produção, como acondicionamento e transporte. Ela sugeriu incentivos fiscais a empreendimentos que produzam ou ofereçam produtos sem glúten, a criação de uma certificação de segurança e campanhas públicas de conscientização e sensibilização da sociedade.
Ambas abordam, ainda, o alto custo da dieta sem glúten e as dificuldades de socialização enfrentadas pelos pacientes, que se sentem excluídos dos espaços coletivos pela falta de opções seguras de alimentação.
Encaminhamentos
Presidente da Comissão de Saúde, o deputado Adalto Santos (PP) informou que o objetivo do debate foi justamente “dar visibilidade à doença celíaca e promover políticas públicas que assegurem vida digna a esses pacientes”.
Ele garantiu que todos os pleitos apresentados no encontro serão encaminhados às instâncias responsáveis do Governo do Estado. “Vamos encaminhar a pauta e não vamos desanimar. Juntos somos mais fortes”, afirmou.
A representante da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), Gabriela Dias, informou que a instituição já criou um grupo de trabalho com profissionais de diferentes áreas para elaborar um plano de ação para o Estado. “Pensamos em criar um selo e um protocolo de vigilância para certificar restaurantes e lanchonetes que realmente produzem sem glúten, garantindo segurança ao consumidor”, informou.
Segundo Cíntia Brito, da Secretaria estadual de Saúde, o governo está aberto ao diálogo com a sociedade civil organizada para implementar ações em benefício dos pacientes celíacos. “Podem contar conosco no sentido de investir no diagnóstico, na atualização dos profissionais e no fortalecimento da fiscalização e certificação”, garantiu.
Propostas
O deputado João Paulo (PT) anunciou o Projeto de Lei (PL) n° 2205/2024, de autoria dele, que busca permitir que pessoas com doença celíaca ingressem com alimentos próprios para seu consumo em eventos esportivos e culturais realizados no Estado. A iniciativa ainda precisa passar pela análise das comissões da Alepe. “Com a medida, buscamos permitir que estas pessoas possam desfrutar vida social com segurança e dignidade”, afirmou.
Membro do colegiado e profissional da área de saúde, o deputado Gilmar Júnior (PV) defendeu a necessidade do acesso ao diagnóstico preciso e precoce. “É preciso garantir a oferta de testes genéticos tanto pelo SUS como pelos planos de saúde”, disse.